Estados do Nordeste vão às ruas por Reparação, contra a discriminação racial e o racismo religioso

 Bahia, Paraíba e Piauí realizaram atos públicos em alusão ao 21 de Março – Dia Internacional da Luta Contra a Discriminação Racial e o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas

Na data que chama atenção para as lutas contra a discriminação racial e o racismo religioso, os estados da Paraíba, Bahia e Piauí realizaram atos públicos em suas respectivas capitais.  As programações, que ocorreram nas cidades de João Pessoa (PB), Salvador (BA) e Teresina (PI) integram a agenda da 5ª edição do Março de Lutas.

O 21 de março marca o Dia Internacional da Luta Contra a Discriminação Racial e o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas. Em alusão à data, mulheres negras da Paraíba realizaram em João Pessoa, capital do estado, na manhã da última terça-feira (21), um ato denunciando o racismo religioso na cidade. Integrando a programação, também foi entregue um dossiê a deputados/as na Assembleia Legislativa denunciando o racismo religioso na Paraíba, bem como lançada uma petição online pedindo a restauração da imagem de Iemanjá, alvo de diversos atos criminosos e racistas. A programação também contou com   artivismo político através de colagens de lambe-lambe cobrando do poder público atenção ao caso envolvendo a imagem da Orixá.


Mulheres negras realizam artivismo político com colagens de lambe–lambe denunciando racismo religioso, na cidade de João Pessoa (PB) | Foto: Emanuelle Costa

A estátua, que fica localizada na orla do bairro de Cabo Branco, em João Pessoa (Pb), teve a cabeça e dedos decapitados em 2016. “A imagem de Iemanjá degolada não tem gerado comoção. Então queremos retomar o diálogo e pressionar os poderes públicos”, diz Hildevânia Macêdo, uma das organizadoras do ato. “Essa ação integra o Março de Lutas no qual mulheres negras de todo o Brasil estão pautando e reivindicando a questão da reparação histórica. Para nós, a estátua de Iemanjá exige reparação”, completa Hildevânia, que também exige que, ao ser restaurada, a imagem da Iemanjá de cor branca, passe a representar o povo negro.

Seguindo a programação pelo Nordeste, em Salvador, na Bahia, foi realizado o “Ato Público pela vida do Povo Negro: Reparação Já”, que ocorreu na Praça da Piedade, Centro da capital baiana. Também integrando a agenda coletiva da 5ª edição do Março de Lutas, a mobilização buscou reivindicar a reparação a partir da denúncia do genocídio do povo negro. 

“A gente sabe que essas vidas ceifadas precocemente são irreparáveis, nada pode ser feito para trazê-las de volta, mas queremos que as famílias que ficaram, as comunidades que tiveram essas perdas possam ter reparação”, diz a coordenadora do projeto Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar, do Odara – Instituto da Mulher Negra, Hildete Emanuele Nogueira, que também afirma ter sido um sucesso o ato. “Conseguimos reunir diversas organizações do movimento social”, afirma. 


Mulheres participam do ato pelo fim do genocídio do povo negro, em Salvador (BA) | Foto: Divulgação

 “O Estado tem essa dívida conosco e é necessário que a gente lute e peça reparação já, como  aconteceu hoje no ato”, completou Hildete. A Bahia é um dos estados mais letais para a população negra brasileira, cenário reforçado pelo próprio Estado que permanece alimentando a estatística de violência contra negros e negras. Durante o ato, também foi pedido o fim do feminicídio que tem ceifado a vida de diversas mulheres no estado baiano. “Queremos também reparação pelas vítimas do feminicídio, que tem matado mulheres todos os dias. Esse foi o grande grito do nosso ato público que ocupou a praça da Piedade com resistência em meio à chuva”, concluiu Hildete Nogueira, que ainda reforçou a importância dos jovens estarem ocupando espaços de protagonismo na luta pela vida do povo negro. 

No Piauí, mulheres negras da capital Teresina também somaram na luta neste 21 de Março.  Na cidade foi realizada uma roda de conversa sobre “Mulheres Negras e reparação: um debate emergencial entre Estado, sociedade civil e movimentos sociais”, no CSU do Parque Piauí. “O ato foi muito importante para falarmos do dia 21 como uma data que marca o Março de Lutas e que, para além do 8 de Março, também temos, enquanto mulheres negras, uma data importante para questionar e debater. Foi o que fizemos hoje”, destacou Halda Regina, integrante da Ayabás – Instituto da Mulher Negra do Piauí e uma das organizadoras do debate. 


Halda Regina discursando durante a mesa de debate sobre reparação, em Teresina/PI | Foto: Divulgação

“Fizemos uma mesa com representação do governo e de movimentos sociais, que participaram discutindo a partir do seu lugar de atuação questionando que reparação é essa para as mulheres que as políticas públicas não deram conta”, questiona Halda informando que durante a oportunidade foi sugerida a criação de um documento visando trazer melhorias para a vida das mulheres, em especial mulheres negras. “Foi um debate muito legal e saímos comprometidas com a ideia de elaboração desse documento com proposições que vão desde a mudança do horário de funcionamento da delegacia a várias outras questões que interferem na vida das mulheres”. 

Um outro ponto levantado foi a construção de uma segunda mesa com o intuito de fortalecer o debate em torno do Bem Viver de mulheres negras, o que deverá ocorrer no segundo semestre de 2023, durante as programações do Julho das Pretas.  

Março de Lutas 

O Março de Lutas é uma ação de incidência política promovida por cerca de 75 organizações do movimento de mulheres negras que integram a Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB) e a Rede de Mulheres Negras do Nordeste, que este ano traz como tema: “Reparação no Brasil, o que as mulheres negras estão pensando?” 

O objetivo é chamar atenção e cobrar do Estado brasileiro suas responsabilidades frente os mais de três séculos de escravidão no país, histórico que até hoje causa impactos negativos na vida da população negra, em especial mulheres. O direito ao Bem Viver é uma garantia que precisa ser efetivada. Reparação já!

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