Conheça Piedade Videira: negra, acadêmica e futura deputada estadual do Amapá

Numa Assembleia Legislativa onde apenas 8% dos parlamentares são negros, Piedade almeja renovação e representação política para a população negra

Mulher preta, amazônida, com raízes quilombolas na comunidade Vila do Curiaú – localizada a cerca de 8 km da cidade de Macapá (AP). É assim que se define Piedade Lino Videira, pré-candidata a deputada estadual pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) no estado do Amapá.

Dançadeira de Batuque e Marabaixo, idealizadora da Companhia de Dança Afro Baraka, e Rainha de Bateria no Grêmio Recreativo Escola de Samba Piratas da Batucada (Piratão), Piedade traz a cultura tradicional de seu estado como elemento fundamental da sua formação identitária.

“Minha vivência na cultura negra do Amapá me posicionou muito positivamente acerca da minha ancestralidade e dos processos de luta e de resistência”, explica Piedade.

Com uma trajetória acadêmica de êxito, a pré-candidata é graduada em Educação Artística com Habilitação em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP); Psicopedagoga pela Faculdade de Macapá (FAMA); Mestre, Doutora e Pós-Doutora em Educação Brasileira pela Faculdade de Educação (FACED) da Universidade Federal do Ceará (UFC).

É professora do curso de Pedagogia e integra o corpo docente do Programa de Pós-graduação em Educação da UNIFAP. Em suas pesquisas acadêmicas, ela investiga os movimentos sociais e a educação popular. É autora do livro “Marabaixo, Dança Afrodescendente: Significando A Identidade Étnica Do Negro Amapaense”.

A pré-candidata afirma que a sua formação política foi construída a partir do seu entendimento enquanto mulher negra e através da participação nos movimentos de mulheres negras. Ela destaca a atuação e importância do Instituto de Mulheres Negras do Amapá (Imena) nesse processo:

“Nesse coletivo gestado, construído e alimentado por mulheres negras, desenvolvemos estratégias em rede nacional e internacional para que possamos incidir aqui no Amapá para uma mudança conjuntural da realidade das mulheres negras”.

Piedade conta que dispôs o seu nome para concorrer ao cargo de deputada estadual nas eleições de 2022 por acreditar que este não é um projeto individual. Seu objetivo na Assembleia Legislativa do Amapá é contribuir com a luta em defesa dos direitos sociais e pela superação das desigualdades sociais, raciais, de gênero e de origem, que perduram na sociedade brasileira e na sociedade amapaense

“Eu acredito que mudar essa realidade só será possível pela voz, mediação e ação propositiva do ponto de vista político eleitoral, a partir do momento em que nós, pessoas negras, também passarmos a ocupar esses espaços de deliberação política”, explica ela.

Representação política de pessoas negras no estado do Amapá

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) em 2021, 83% da população do Amapá se autodeclara preta ou parda

Uma pesquisa realizada por organizações da sociedade civil sobre a representação política nas Assembleias Legislativas dos estados da Amazônia Legal, aponta que 63% dos parlamentares eleitos no estado em 2018 são brancos. Ainda segundo a pesquisa, o número de parlamentares autodeclarados pretos não passa dos 8%.

Participação política de mulheres negras

Piedade comenta que no estado do Amapá, assim como em todo o Brasil, a maior parte da população negra convive com problemas históricos baseados no racismo, como os altos índices de letalidade policial, pobreza, falta de infraestrutura e de garantia do acesso à saúde e educação de qualidade.

Para ela, as mulheres negras são as mais afetadas pelos processos de exclusão, racismo e desigualdades sociais que são causados também pela falta de representação política e, embora estejam envolvidas nos processos de eleições e política partidária, quase sempre são utilizadas como massa de manobra. Por conta disso, têm a necessidade de se organizar para disputar espaços de tomada de decisão, entendendo que eles também lhes pertencem:

“Precisamos arregimentar uma ação estratégica, coletiva, propositiva, com metas estabelecidas e nos apresentar como alternativas, como oportunidade da população olhar e se ver representada. É na política partidária que teremos a chance de avançar com a nossa pauta, nascida no seio das nossas discussões nos movimentos sociais negros”, explica.

Ela ressalta que é importante propagar esse discurso para que outras mulheres se inspirem e entendam que esse processo de mudança precisa começar agora, tanto através do voto em pessoas que as representem, quanto se colocando para pleitear cargos políticos.

“Nós, mulheres negras, somos essenciais nessa reconfiguração dessa estrutura de poder político e econômico do nosso país. Que nós possamos ser sujeitas ativas, propositivas dos processos de mudança que são fundamentais para dignificar a nossa condição enquanto mulheres negras”, conclui.

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