Keila estava viajando para participar do Fórum Social Mundial, que começou no dia 1º de maio e vai até a próxima sexta-feira, dia 6
Em viagem ao México para participar do Fórum Social Mundial, Keila Simpson Souza, Travesti e Presidenta da Associação Nacional de Travestis e Transexuais – ANTRA, foi barrada no aeroporto da Cidade do México e deportada para o Brasil. A justificativa apresentada pelas autoridades locais, foi que a sua expressão de gênero não correspondia com o nome que consta na documentação apresentada.
Keila faz uso de nome social, mas por direito e escolha própria, mantém seu nome de batismo nos documentos pessoais de identificação. Apesar de portar toda a documentação necessária para entrar no México, as autoridades de imigração mexicanas, em um episódio de escancarada violência política racial e de gênero, negaram a entrada de Keila no país. A ativista ficou detida por quase dez horas, isolada e impedida de ter contato com outros membros da delegação com a qual viajava.
Em suas redes sociais, Keila, que já se encontra no Brasil, se manifestou agradecendo pelas mensagens e preocupações e declarou que: “Não foi uma experiência tranquila, mas serviu para lançar luz em mais um dilema dos tantos que já temos. Não, eu não tenho retificação e não vou fazer. É uma decisão pessoal minha. Não quero me anular enquanto Travesti e a retificação no meu caso bem pessoal faria isso”.
Entidades como a própria ANTRA, a Associação Brasileira de Estudos da Trans-Homocultura – ABETH, Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG), a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), se pronunciaram em solidariedade a Keila e exigindo que o Governo Mexicano e o Governo Brasileiro, por meio do Ministério das Relações Exteriores, dêem respostas e tomem as devidas previdências para reparar o acontecido.
Organizações presentes no Fórum Social Mundial também declararam apoio à ativista. O Fórum Social Mundial começou no dia 1º de maio e segue até a próxima sexta-feira (6). A mesa da qual Keila participaria presencialmente será na próxima quarta-feira (4) e a sua presença de forma virtual foi garantida pela organização do evento.
“Não é tranquilo ser travesti e transitar pelo mundo com retificação ou não. Agradeço mais uma vez a vocês e continuamos na labuta do dia a dia”, concluiu Keila em suas redes sociais.
Nós, da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras – AMNB, endossamos a exigência por reparação e a denúncia da violação de direitos humanos praticada contra Keila, que teve a sua identidade de gênero desrespeitada e foi impedida de participar de um espaço de construção política para o qual foi convidada. Que os autores dessa violência política simbólica contra Keila sejam responsabilizados e que sirvam de exemplo para que outras pessoas e instituições não mais se sintam à vontade para praticar transfobia sob justificativas tão absurdas.