Há exatos 5 anos atrás, no dia 18 de novembro de 2015, quase 100 mil mulheres negras de todo o país marcharam em Brasília, se posicionando contra o racismo, a violência e em defesa do bem viver. Hoje, em 2020, após inúmeros retrocessos e também conquistas, nós mulheres negras podemos dizer que seguimos em marcha pela construção de uma sociedade mais justa.
Em texto publicado aqui no site do CEERT, dias após a marcha, ainda muito envolvida pela emoção, cheguei a afirmar que essa experiência representava “um novo momento político de uma luta histórica”. Na época já estava muito nítido para mim que colheríamos muitos frutos desse processo tão emblemático e bonito, que foi a construção[1] da marcha. Até porque, nós do CEERT[2] nos envolvemos neste processo organizativo de diversas formas, atuando diretamente no Núcleo Impulsor da Marcha das Mulheres Negras do Estado de São, no Comitê da Marcha da Zona Leste de SP, além do apoio a outras iniciativas para fortalecer a mobilização em âmbito nacional.
É muito gratificante avaliar esses 5 anos e perceber que de fato, estamos construindo um momento ímpar da nossa história. Até porque, ainda que sejam incontáveis os retrocessos políticos, com o avanço do conservadorismo nos últimos anos, que nos afeta diretamente, como o crescimento dos casos de feminicídio e violência doméstica, o genocídio, o racismo estrutural e as mortes resultantes da COVID-19.
Por outro lado, são inúmeros os frutos da marcha, que florescem e embelezam a nossa colheita: como o fortalecimento das organizações de mulheres negras já existentes, bem como o surgimento de novas organizações; a maior visibilidade e projeção pública dos nossos discursos e reivindicações políticas; o aumento considerável de candidaturas de mulheres negras nas duas últimas eleições, além do crescimento de pesquisas acadêmicas sobre mulheres negras e bem viver, etc.
Para compreender a magnitude desse processo, é fundamental revisitar a “Carta da Marcha das Mulheres Negras”[3] que foi entregue para as autoridades, que mesmo depois de 5 anos permanece totalmente atual e necessária. Mas também acesse o novo documento que avalia esse período após a Marcha.
Nós mulheres negras seguimos na luta, em marcha, como na ginga das capoeiras, para a constituição de um novo pacto civilizatório e em defesa do bem viver. Avante!
* Giselle dos Anjos Santos – umas das representantes do CEERT na construção da Marcha das Mulheres Negras – 2015. Além disso, é Historiadora (PUC-SP), Mestra em Relações de Gênero e Teoria Feminista (UFBA) e Doutoranda em História Social (USP).
[1] Ainda mais importante do que a realização da Marcha em si, foi o processo de mobilização e articulação que a antecedeu. Com a realização de seminários, oficinas, rodas de conversas, palestras, entre outras iniciativas que tiveram como objetivo divulgar e aglutinar o maior número de participantes, além de formar e fortalecer as mulheres negras que encontraram nesses eventos, espaços para discutir as suas demandas políticas específicas, resignificar sua identidade, constituindo também importantes laços de solidariedade.
[2] Apenas para mencionar algumas das integrantes do CEERT que atuaram diretamente na construção da Marcha das Mulheres Negras – 2015: Cida Bento, Edna Muniz, Giselle dos Anjos Santos, Juliana Gonçalves, Luanda Mayra, etc.
[3] Esse documento traz reivindicações políticas amplas que estão divididas em dez tópicos primordiais: Direito à vida e a liberdade; Promoção da igualdade racial; Direito ao trabalho, ao emprego e à proteção das trabalhadoras negras em todas as atividades; Direito à terra, território e moradia/direito à cidade; Justiça ambiental, defesa dos bens comuns e à não mercantilização da vida; Direito à seguridade social (saúde, assistência social e previdência social); Direito à educação; Direito à justiça; Direito à cultura, informação e à comunidade, e a Segurança pública.
Fonte: https://ceert.org.br/noticias/genero-mulher/43579/5-anos-da-marcha-das-mulheres-negras-a-construcao-de-um-novo-pacto-civilizatorio