Carta da Articulação das Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB) ao Excelentíssimo senhor Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva

Nós, mulheres negras reunidas na Assembleia Geral da Articulação das Organizações de Mulheres Negras Brasileiras – AMNB, entre os dias 14 a 17 de novembro de 2022, em Salvador (BA), alinhadas ao processo democrático do nosso país que vem sendo restabelecido a partir das Eleições 2022, evidenciamos o papel fundamental que as mulheres negras tiveram nestas eleições, reafirmando nossa escolha majoritária pela democracia, atuação reconhecida pelo Excelentíssimo Senhor Presidente em seus discursos após a vitória nas urnas.

As opressões de raça, gênero e classe estruturam historicamente as desigualdades, as violações dos direitos e a vulnerabilidade às violências no Brasil. As mulheres negras somam o maior grupo populacional do país (28% da população – IBGE), entretanto, são as que se encontram em maior vulnerabilidade social, insegurança alimentar, pobreza extrema, desemprego, iniquidades em saúde, expostas às diferentes expressões das violências. Concomitantemente, são as responsáveis pela existência e manutenção da vida de suas famílias e comunidades.  

No momento em que o país atravessa a maior crise política, econômica, sanitária, socioambiental e climática, nós, mulheres negras, buscamos produzir soluções, mantendo-nos organizadas e atuando em diferentes frentes em busca de alternativas. Não nos afastamos dos territórios e comunidades, nem das ruas, mantivemos uma incidência política junto a governos e parlamentos, e traçamos um caminho necessário de solidariedade e de luta pela garantia de direitos e de fortalecimento da democracia.

Por essas razões, não admitimos a invisibilidade da nossa força política, portanto:

  • Queremos participar de todas as instâncias de poder e decisão, entendendo que sem essa participação todo e qualquer esforço para a melhoria do país estará incompleto;
  • Queremos ver cumpridas as políticas públicas de forma adequadas para a efetivação de todos os nossos direitos;
  • Queremos ver cumpridos todos os compromissos assumidos em seu discurso após vitória eleitoral, com foco na melhoria das condições de vida da população negra (em especial para as mulheres negras), garantindo todos os recursos necessários para essa viabilização;
  • Queremos o comprometimento do governo com o enfrentamento ao racismo, ao sexismo, ao capacitismo, as LGBTQIA+fobias, à violências de gênero e a exploração sexual infanto-juvenil;
  • Queremos o compromisso com a segurança alimentar, o meio ambiente, a agricultura familiar e   a regularização das terras indígenas e quilombolas;
  • Queremos a efetivação das políticas de educação, cultura e saúde, com atenção à saúde da população negra e a justiça reprodutiva;
  • Exigimos o direito à vida com dignidade e para isto, o desenvolvimento de políticas públicas com viés racial, de gênero, geracional, regional, dos direitos humanos, da interseccionalidade, intersetorialidade, transversalidade e representação de pares.          

Por fim, as nossas reivindicações brotam das nossas experiências acumuladas capazes de fazer do Bem Viver um paradigma realizável na ação política, cujo protagonismo do Estado é central.  Desse modo, reivindicamos a construção e consolidação de um novo pacto político conforme a Carta da Marcha das Mulheres Negras Contra o Racismo a Violência e pelo Bem Viver, entregue à então presidenta Dilma Rousseff, em 2015, disponível AQUI.

Seguimos na luta contra o racismo, a violência e pelo Bem Viver!

Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), subscrita pelas 49 organizações de mulheres negras espalhadas pelas cinco regiões do Brasil, abaixo assinadas:

Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba

Ajagum Obririn – Organização de Mulheres Negras do Rio Grande do Norte

Alagbara – Articulação de Mulheres Negras e Quilombolas do Tocantins

Akanni- Instituto de Pesquisa e Assessoria em Direitos Humanos, Gênero, Raça e Etnias

Associação Cultural de Mulheres Negras (ACMUN)

Associação de Educação, Arte, Cultura e Agroecologia Sítio Ágatha

Associação de Mulheres Mãe Venina do Quilombo do Curiaú – AMMVQC

Associação Mulheres de Odun (AMO)

Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria

Bamidelê – Organização de Mulheres Negras da Paraíba

Casa Laudelina Campos de Melo 

Casa da Mulher Catarina

Centro de Atividades Culturais, Econômicas e Sociais (CACES)

Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT)

Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará – CEDENPA

Centro de Referência Negra Lélia González

Colettiva Preta

Coletivo Ashanti

Coletivo de Mulheres Negras de Caceres

Coletivo de Mulheres Que Movem Juina

Comunidade Oju Ifá

Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas

Criola – Organização de Mulheres Negras

Geledés – Instituto da Mulher Negra

Grupo de Mulheres do Alto das Pombas

Grupo de Mulheres Negras Mãe Andresa 

Grupo de Mulheres Negras Malunga 

Ilera – Ancestralidade e Saúde

Instituto Amma Psique Negritude (AMMA PSIQUE)

Imune – Instituto de Mulheres Negras Mato Grosso

Instituto da Mulher Negra do Ceará INEGRA

Instituto da Mulher Negra do Piauí – Ayabás

Instituto de Mulheres Negras do Amapá – IMENA

Irohín

Maria Mulher

N’Zinga – Coletivo de Mulheres Negras de Belo Horizonte (MG)

Odara –Instituto da Mulher Negra

ONG de Mulheres Negras Professora Maura Martins Vicência – MUNMVI

Pretas Candangas

Pretas de Angola

Rede Afro LGBT

Rede de Mulheres Negras do Ceara

Rede de Mulheres Negras de Minas Gerais

Rede de Mulheres Negras de Pernambuco

Rede de Mulheres Negras do Paraná

Rede de Mulheres Negras do Nordeste

Rede de Mulheres Negras para a Segurança Alimentar e Segurança Alimentar (REDESAN)

Rede Nacional de Lésbicas e Bissexuais Negras Feministas Candaces

Uiala Mukaji

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