Durante a última semana, acompanhamos, consternadas, as notícias sobre as denúncias de assédio sexual contra o então Ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida. É desalentador ter de lidar com uma situação como esta, envolvendo duas figuras públicas negras que constituem o atual governo.
Primeiramente, queremos oferecer toda a nossa solidariedade e apoio à Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco – autora da denúncia – e a todas as demais mulheres que se levantam com coragem para denunciar violações sexuais.
Nós, mulheres negras, vivenciamos diariamente violências que vão desde um “psiu” na rua até a invasão dos nossos corpos por meio da força física e brutalidade de homens, que muitas vezes, estão acima de qualquer suspeita.
Quando denunciamos, nos vemos expostas, vulneráveis e marcadas pela vergonha, como se fossemos nós as responsáveis por cometer um ato criminoso. Se silenciamos e só depois de muito tempo tomamos coragem para denunciar, questionam “e por que só agora?”. Um processo cruel de revitimização que, assim como as violências sexuais, nos atingem independentemente do lugar que ocupamos na sociedade. É de se revoltar, mas não de se estranhar que até mesmo uma Ministra de Estado passe por isso.
Neste momento, é crucial que o governo, através das suas secretarias, ministérios e outros órgãos competentes, dêem uma atenção especial, não só no que diz respeito ao caso envolvendo a denúncia de Anielle, mas no sentido de dar uma resposta necessária às mulheres negras brasileiras, que representam 73% das vítimas de violência sexual no país.
Se faz necessário estabelecer medidas institucionais que garantam celeridade no encaminhamento das denúncias e resguardem as vítimas. O Governo Lula, além de lidar com a crise interna e externa provocada pelo caso, tem a responsabilidade e a obrigação de combater firmemente o cenário de violências e violações de direitos ao qual estão submetidas todas as mulheres negras do Brasil.
Quanto a Silvio, esperamos que responda por seus atos, com direito à ampla defesa, ao contrário do que acontece diariamente com outros homens negros que lotam o sistema carcerário sem a garantia de um julgamento justo. E que esta seja uma oportunidade para que os homens negros que se colocam como nossos aliados, revejam seus comportamentos e estabeleçam entre si uma agenda para discutir e combater comportamentos predatórios contra os nossos corpos.