Carta Pela Morte De Luana Barbosa Dos Reis

Salvador, 19 de abril de 2016

ASSUNTO: Solicitação de gestões junto aos órgãos de justiça e de direitos humanos para investigação do homicídio de Luana Barbosa dos Reis

Em nota, a Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), através deste documento, solicitar que os órgãos de justiça e de proteção dos direitos das mulheres, da igualdade racial e dos direitos humanos encaminhe as devidas providencias legais para que seja investigado e apurado o assassinato de Luana Barbosa Reis, mulher negra de 34 anos, que foi internada em estado grave e veio a óbito após ser espancada durante uma abordagem policial em Ribeirão Preto (SP).
Luana Barbosa dos Reis veio a falecer nesta quarta-feira (13), cinco dias após ter sido internada na Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas (HC-UE). Ela sofreu uma isquemia cerebral aguda causada por traumatismo crânio-encefálico, conforme aponta a declaração de óbito.
Uma testemunha afirma que Luana foi brutalmente agredida por pelo menos seis policiais na rua da casa onde morava. De acordo com a Polícia Militar, os agentes reagiram depois que foram desacatados e agredidos por Luana. O comando apura a denúncia e a Polícia Civil investiga o caso.
Não podemos permitir mais assassinatos de pessoas negras nesse país, vitima da violência do braço armado do estado brasileiro. Há dois anos assistimos aterrorizada a morte violenta de Cláudia Silva Ferreira, que teve o corpo arrastado por 350 metros por um carro da Polícia Militar, após ter sido baleada, no Morro da Congonha, no Subúrbio do Rio de Janeiro. Cláudia teve parte do corpo dilacerada ao ser arrastada pelo asfalto e Luana teve seu corpo brutalmente violentado após ter sido espancada pela PM.
Não podemos nos calar diante do genocídio da população negra e feminicidio das mulheres negras, precisamos de ações imediatas e objetivas de intervenção.
Mais informações dadas pela família sobre o caso de Luana Barbosa dos Reis:

AGRESSÕES E MORTE

Segundo a professora Roseli Barbosa dos Reis, a irmã saiu de casa por volta das 19h para levar o filho de 14 anos a um curso. Ela foi abordada pela polícia na esquina da residência no bairro Jardim Paiva, quando seguia de moto para a escola.
Roseli afirma que Luana teria pedido uma policial para que fosse feita a revista, mas a solicitação não foi atendida, e ela não permitiu o procedimento. Foi quando, segundo a professora, as agressões começaram.
Uma vizinha, que prefere não se identificar, conta que os policiais desferiram golpes de cassetetes em Luana. A mulher ouviu gritos na rua e saiu de casa para ver o que acontecia quando se deparou com a cena.
?Foi uma coisa de terrorismo que eu nunca tinha visto na minha vida. Eles foram muito violentos. Deram bastante cacetada nela, nas pernas, mas muito. Batiam com o cassetete?, diz a testemunha.
Luana foi levada para a delegacia, onde os policiais registraram um termo circunstanciado. No documento, os PMs alegam que foram desacatados e agredidos pela mulher, que estava descontrolada. Um dos policias sofreu ferimentos na boca e o outro teve uma lesão no pé.
Após o registro na polícia, Luana foi dispensada, mas devido aos ferimentos acabou sendo internada na Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas (HC-UE). De acordo com a irmã, ela sofreu uma isquemia cerebral aguda causada por traumatismo crânio-encefálico. ?Ela apanhou muito, estava brutalizada. Ela não conseguia abrir os olhos, toda machucada, com vermelhidão no corpo inteiro, ela não conseguia andar?, afirma Roseli.
Luana morreu no dia 13 de abril e os órgãos foram doados pela família.

POLÍCIA NEGA AGRESSÕES
O tenente coronel da PM, Francisco Mango Neto, informou que a abordagem aconteceu porque havia uma suspeita de que a moto dirigida por Luana fosse roubada. Mango Neto diz que a mulher se mostrou exaltada desde o início da conversa com os policiais.
Sobre a acusação de violência feita pela família, o coronel afirma que o uso da força foi preciso para conter a mulher após xingamentos e agressões contra os PMs. ?Eu acredito que não [tenha havido excesso]. Na realidade foi para contê-la. Tanto que os policiais estavam muito mais lesionados, com cortes, e ela não. Ela foi íntegra para a delegacia, lá foi solicitado exame de corpo de delito, o qual ela deveria passar?.
Mango Neto diz que a PM solicitou um laudo complementar para apurar se a isquemia foi desencadeada por lesões ou se por outro motivo. ?Vamos apurar se esse AVE ela teve por lesão ou se teve por outro motivo, como drogas, anabolizantes, porque ela era uma lutadora de arte marcial, bem forte.?
Mais uma vez ressaltamos que não podemos permitir que mais vidas negras sejam ceifadas pelo braço armado do estado brasileiro. A população negra, em particular, a juventude, as mulheres e LGBTTs vem sofrendo historicamente múltiplas violações de direitos provocados pelo racismo, sexismo, machismo e homofobias e nossa luta é fundamental para romper com essa dinâmica perversa. Nesse sentido, a Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB) apresenta sua demanda para que o caso seja investigado e apurado em caráter de emergência pelos órgãos competentes, assegurando o afastamento e prisão dos acusados, além de garantir a proteção da família, que vem sendo ameaçada.
Mulheres Negras em Marcha!

Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB)

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